quarta-feira, 17 de abril de 2013

"A responsabilidade política é minha", diz ex-governador Antônio Fleury sobre Carandiru



“A responsabilidade política é minha.” Chamado pela defesa dos policiais militares para ser ouvido no segundo dia de julgamento do massacre do Carandiu, o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho (1991-1994) resumiu com essa frase sua visão sobre o assassinato de 111 detentos pela polícia militar no dia 2 de outubro de 1992.

O ex-governador estava em Sorocaba quando soube, por telefone, que uma briga entre detentos havia saído do controle na Casa de Detenção. “O tempo estava fechado, tive dificuldades para voltar para a capital.”
Fachada do Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, neste terça-feira, no segundo dia de julgamento do massacre do Carandiru. Foto: Tércio Teixeira/Futura Press
Fleury iniciou sua fala lembrando-se de um fato que ele teria tido conhecimento nos bastidores: “Assim que o coronel Ubiratan Guimarães [responsável pela operação dentro presídio] tentou entrar, ele foi atingido por um tubo de televisão e desmaiou. Isso causou comoção na tropa.”
Policial militar reformado, o então governador disse que sua participação nas investigações foi pequena porque sua intenção era manter imparcialidade. Além disso, o Estado de São Paulo enfrentava outros problemas. “Eu era governador do Estado. Eu administrava uma São Paulo com inflação de 40% ao mês e 1,5 milhão de desempregados.”
Questionado pela advogada Ieda Ribeiro de Souza se o massacre era um “problema menor”, Fleury mudou seu tom de voz e disse que sua única responsabilidade é “política”: “a criminal caberá aos jurados decidir.”
“Não era minha obrigação ir ao local. Eu era governador, para isso existe uma hierarquia”, afirmou ele, que ainda hoje apoiaria a decisão de invadir o pavilhão. “Se hoje houvesse algo semelhante, eu daria a ordem. A omissão da polícia é criminosa como qualquer ação.”
Para o ex-governador, “a entrada da polícia foi absolutamente necessária”. “A PM responde ao secretário de segurança. Quem tomou a atitude foi apoiado por todas as autoridades.”