O processo de migração indígena é silencioso, mas nos últimos
dois anos pode ser cada vez mais notado, tanto nas ruas e praças do Centro de
Belo Horizonte quanto na região metropolitana.
Com o número crescente de indígenas deixando as reservas no
Sul da Bahia, e sem um local adequado para abrigá-los na área urbana, a
Prefeitura de BH pode ter, no futuro, um problema grave para resolver.
O alerta é do sociólogo, antropólogo e cientista político
Leônidas Valadares Viegas Lopes, destacando que, ao chegarem nos novos
territórios, os índios encontram dificuldades para se assentar e passam a viver
em favelas.
“A garantia do direito à moradia é um dos principais desafios
aos povos indígenas que migram para as cidades, mas há também questões como a
educação dos filhos, saúde, alimentação e violência, no contexto da segurança
urbana”, diz.
A constatação do professor é confirmada por Marinalva Maria
de Jesus, representante da Associação dos Povos Indígenas de BH e Região
Metropolitana (APIBHRM). Ela já identificou quase 8 mil índios em situação de
penúria na capital e cidades como Ibirité, Vespasiano, Ribeirão das Neves e
Juatuba. “Nas colônias, que ficam nos aglomerados, em cada barraco vivem até 20
pessoas”, lamenta Marinalva.
Dificuldades
Pela cidade, os índios enfrentam vários desafios. Na última
sexta-feira, em um ponto de ônibus na região hospitalar da capital, um grupo
tentava pegar o ônibus para o bairro Jardim Vitória, na região Nordeste.
O destino era um porão de três cômodos, onde o pataxó
Sucupira “de branco” é Willian Lima de Souza) vive com 18 pessoas, dentre elas
um recém-nascido.
“Sofremos para morar e muitos motoristas ainda não aceitam
nossa presença nos coletivos”, reclamou, referindo-se ao fato de andarem sem
camisa e a caráter, com cocares e enfeites pelo corpo.
A BHTrans reconhece o problema e informou que as reclamações
já haviam sido registradas. Se for constatada alguma irregularidade na conduta
dos motoristas, o consórcio responsável pela linha poderá ser punido. No
entanto, frisa que, por lei, ninguém pode andar sem camisa nos coletivos.
Os pataxós reclamam das agressões físicas, psicológicas e
verbais a que são submetidos diariamente, enquanto vendem artesanato nas ruas
de BH. Os relatos estão sendo analisados pelo Ministério Público Federal (MPF).
Segundo a assessoria do órgão, depois de registrar três casos somente na semana
passada, o MPF instaurou um inquérito sobre as ocorrências.
A questão da migração indígena foi discutida, em fevereiro
deste ano, numa reunião entre a Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
(Cpir) da PBH, a FUNAI, a Defensoria Pública e membros da APIBHRM. Ficou
previsto para 2014 um diagnóstico da situação indígena em BH. hojeemdia